Everaldo Vasconcelos ministra oficina remota de direção de atores e atuação cinematográfica para o coletivo atuador.

Aconteceu de 25 de agosto a 3 de setembro a Oficina Direção de Atores e Atuação Cinematográfica, ministrada pelo Prof. Ms. Everaldo Vasconcelos, do Departamento de Artes Cênicas da UFPB, exclusivamente para os integrantes do Coletivo Atuador, através de plataforma online. A oficina parte do estudo da obra Deixa Estar, peça do dramaturgo Paulo Vieira, numa adaptação para o audiovisual. A Oficina é uma das várias ações previstas no Projeto de Extensão aprovado pelo Coletivo Atuador no edital UFPB no Seu Município 2020. A princípio, a atividade aconteceria presencialmente, nas dependências da UFPB, onde normalmente acontecem os encontros presenciais do grupo. Mas, diante da situação da pandemia pela qual passamos, o Coletivo Atuador vem mantendo suas atividades com adequações para cumprimento do isolamento. Além desta oficina, outras atividades formativas, como lives com especialistas e mostra de filmes com debates, também estão previstas pelo projeto para acontecerem até o final deste ano. O Coletivo ainda pretende lançar o filme curta-metragem Banco de Dados, uma produção própria com direção de Paulo Phillipe e Raysa Prado, além da web série (a)normalidade, realizada em parceria com o diretor Kennel Rógis.

Deborah Menezes (Extensionista)

Extensionista voluntaria no Coletivo Atuador Deborah Menezes fala um pouco da sua experiência junto aos atuadores e atuadoras e como é participar da oficina com Everaldo Vasconcelos e diz: “O desejo de trabalhar com o Coletivo Atuador é antigo, e torná-lo real tem sido uma jornada de muito aprendizado do que é o trabalho com o audiovisual e principalmente o trabalho em grupo, que é fundamental para o desenvolvimento do primeiro. Entrar para o programa de extensão como voluntária em meio a pandemia foi umas das melhores decisões que poderia tomar como artista e estudante. Fazer parte do Coletivo Atuador me permite estar em movimento (mesmo que em casa) com os processos criativos e de produção. Então, encaro cada desafio como oportunidade de aprendizado.” responde.

Sobre trabalhar de forma remota ela completa: “O importante em uma situação nova como essa é se manter aberto as possibilidades, a arte encontra formas de se desenvolver independente do meio. E o trabalho desenvolvido na oficina tem funcionado muito bem nesse meio virtual, apesar de não ser o ideal. Inclusive, isto é algo que temos aprendido: a trabalhar com o que temos, com o possível,” diz.

Everaldo Vasconcelos

O Professor e Mestre Everaldo Vasconcelos também falou ao nosso site com tem sido trabalhar com o coletivo atuador: “O Coletivo Atuador tem um dos mais sérios trabalhos de pesquisa na área de interpretação para o audiovisual, tanto cinema como televisão; tem feito ao longo destes últimos anos o ensino de interpretação a atores e atrizes, e confrontado as mais diversas técnicas de preparação através da conexão com os melhores preparadores de atores do Brasil. Em suas oficinas tem promovido a divulgação destas técnicas. O Coletivo Atuador também tem feito os seus próprios filmes onde põe em pratica e à prova todo o seu conhecimento. Hoje, no contexto da Paraíba é um grupo inédito, pois difere do caráter de um cineclube no seu molde clássico, uma vez que se dedica fundamentalmente aos atores e atrizes. Foi uma honra ter recebido o convite para ministrar uma oficina para um grupo que tem uma grande maturidade de pesquisa nesta área. Senti-me como sendo convidado para ensinar Pai-Nosso a vigário, como diz o adágio popular. Quando recebi o convite pensei em uma proposta experimental aproveitando o clima de pandemia fazendo reuniões através de videoconferência e enviei ao grupo, mas quando recebi a lista dos inscritos: Cely, Bia, Raysa, Deborah, Itamira, Paulo Philipe, Murilo, Joalison e Edson, vi que valia muito mais a pena ter uma pegada em um contexto de cinema, que somente fazer um experimento seria desperdício. Assim mudei o tom da oficina para trabalhar com o texto teatral de Paulo Vieira chamado Deixa Estar adaptando-o junto com o grupo para a linguagem cinematográfica. De fato, é algo que deixa feliz qualquer pessoa que gosta de conversar sobre cinema, que é algo muito peculiar, e nada melhor do que conversar com quem tem paixão pela sétima arte. Sem a força dos que amam a imagem em movimento não é possível estudar com afinco o cinema, que é um grande prazer. Sinto-me agraciado por este convite como um premio,” diz o professor.

Trabalhar de forma remota é algo que tem acontecido com frequência durante essa pandemia e perguntamos como tem sido realizar a oficina dentro desses aspectos: “Estes tempos de peste tem feito com que nós descubramos coisas novas. Melhor ainda, que redescubramos o mundo, que jazia escondido dentro de nossas relações sociais superficiais. De verdade, estávamos em contato presencial, mas não nos dávamos conta da existência, éramos distantes mesmo estando perto, e como diz o sociólogo Boaventura de Sousa Santos, este vírus propõe uma pedagogia muito cruel, para que nós reencontremo-nos como criaturas humanas vivendo em sociedade. Outra coisa interessante é como tínhamos tanta possibilidade com as tecnologias, mas nós a subutilizávamos. Toda tecnologia que agora estamos usando já estava 2 mas nós a subutilizávamos. Toda tecnologia que agora estamos usando já estava disponível. Todo este mal estar, tem por outro lado, um aspecto positivo, que é o de nos darmos conta das ferramentas que já tínhamos e estávamos usando-as apenas para nos alienar da luta social. Com a pandemia e a sua cruel pedagogia, começamos a tomar consciência do poder das ferramentas tecnológicas e despertamos da hipnose a que estávamos submetidos, algo que seria inconcebível há 10 meses. Penso que trabalhar de forma remota já era uma possibilidade que tínhamos e não usávamos, e agora estamos tendo um treinamento intensivo nisso. É muito bom. Acredito que perdemos a inocência e as redes sociais com o seu mundo paralelo caiu como a Torre de Babel. Hoje, somos pessoas usando ferramentas digitais na luta por um mundo melhor; dificilmente se conseguirá no futuro fazer o que foi feito no Brasil com o uso pernicioso das grandes redes sociais, que criaram a ilusão de que se constituíam numa comunidade, e não são, pois de fato, são empresas que manipulam os seus usuários para vender objetos, pessoas e ideias como mercadorias. Estamos trabalhando com o que gostamos, de forma mais remota agora; em breve, também, pois estas ferramentas continuarão a expandir os horizontes da criação,” completa Everaldo.

Finalizamos perguntando ao professor Everaldo Vasconcelos como ele vê o fazer atuar sendo “reinventado” de forma remota e ele diz: “Acho que não estamos reinventando a forma de interpretar online. Estamos usando o que temos para experimentar estas ferramentas tecnológicas potencializando a nossa imaginação, e procurando obter o que sabemos fazer. Não há distancia entre a interpretação online e presencial. Mudam os propósitos do uso da câmera; se é um uso social de vídeo conferencia, de aulas e encontros diversos; no caso do trabalho do ator e da atriz, a prerrogativa é a mesma, que é a construção de personagem, o estudo dos roteiros são os mesmos, porque a base de toda a criação continua sendo o corpo do ator e da atriz. É neste corpo que se realiza o trabalho, a câmera é coadjuvante do processo. Tem coisas que serão possíveis de fazer online, outras não. Temos que levar em conta que surgiu uma nova modalidade de espetáculo, que é aquele que é produzido para a situação online, não propriamente o teatro, nem a televisão, mas muita mais proximo de uma linguagem de Streaming Arte por assinatura, com eventos ao vivo. Acho que esta modalidade continuará a ser oferecida, do mesmo modo que já acontecia com concertos e eventos performáticos. O trabalho do ator atriz continua sendo o de construir o seu papel no seu corpo. É claro que dependendo da condição tecnológica isto pode ter um viés mais intimista. Na minha opinião, trata-se de generalizar um meio de expressão que já estava sendo 3 Na minha opinião, trata-se de generalizar um meio de expressão que já estava sendo utilizado de forma restrita e agora se tornou mais popular e aceito. Este é a barreira que foi quebrada, o publico passou a aceitar esta modalidade como uma possibilidade válida,” Finaliza.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *